sábado


No Saguão do Hotel
Chega a hora do intervalo e do merecido café. Aproveito a pausa e vou atrás de opiniões dos colaboradores da cozinha e da manutenção. Encontro Rutenberg Jesus dos Santos. Esse baiano, da cidade de Antas, faz questão de soletrar seu nome R-U-T-E-M-B-E-R-G, g mudo, por favor! Brincamos um pouco e ele me diz que está há dez meses em São Paulo, que na Bahia tem muitos amigos com deficiência. "Tem um surdo, tem um que não tem o braço, tem um que não é bem das idéias..." Ele segue descrevendo os amigos e um pouco da saudade da Bahia, mas sempre termina a frase com anseios e desafios da nova vida. Pergunto o que ele fazia na Bahia, o que continua fazendo aqui em Sampa. "Futebol, todo domingo! Os funcionários do Novotel se reúnem pra jogar uma pelada. E aqui no time, também jogam os funcionários com deficiência. Tem surdo, amputado, um que tem um defeitinho na perna, mas esse não vai todo domingo". Pergunto qual foi o maior desafio dele no trabalho. "Ah, quando desembarcaram um monte de pessoas com deficiência aqui no hotel, foi uma correria. A gente servia a comida pra eles, cortava os alimentos e ajudava sempre que preciso. Mas o que é triste é que ainda tem muita gente pedindo ajuda na rua. Quando dá, eu ajudo com o que posso - um real, cinqüenta centavos. O que eu queria mesmo era que o Brasil fosse como os três dias em que o comitê paraolímpico se hospedou aqui no hotel, que as pessoas com deficiência fossem assim", diz Rutemberg.
Em outubro de 2007, 715 atletas com deficiência se hospedaram no Novotel para as seletivas olímpicas de Pequim. O hotel possui 12 apartamentos adaptados para pessoas com deficiência física, telefones públicos para surdos, vagas para pessoas com deficiência no estacionamento, sinalização nos elevadores. Depois dessa manhã, mais um grupo de pessoas formadas e com muita disposição para compartilhar e viver novas experiências. Agora, é respirar o ar cinza do centrão da velha Sampa, entrar na loja de discos da rua Martins Fontes e comprar um duplo do pianista João Maria de Abreu, Um piano... Um bar... Planos... Aliás, estou ouvindo-o, agora, enquanto encerro esse texto. No meu toca- discos, a primeira música do lado A, do disco um - My Way...
Arthur Calasans